- É o conjunto de tendências que atua principalmente no campo das artes. Os textos seguintes registram alguns dos princípios fundamentais dos movimentos de vanguarda europeus do início do século XX. Cronologicamente, tais manifestações artísticas surgiram em torno da 1º Guerra Mundial, compreendendo o período que a antecedeu e o período que a sucedeu - quando então o mundo já se preparava para a 2º Guerra Mundial.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Augusto dos Anjos
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
ESTOU LARGANDO TUDO
André Breton
Estou largando tudo:
Meus medos, minhas dores, meus desesperos...
Estou numa fuga louca,
Tropeçando, mas fugindo!
Não deixei, sequer, carta de despedida...
Minhas últimas letras foram as do recibo do hotel,
Não posso mais,
E nem perguntem para onde estou indo
Neste momento nenhum braço, nenhum olhar, nem um verso, pode me deter!
Estou largando tudo! E
Aos que ficam, preparem-se,
Um dia chegará a hora de vocês!
Sejam velhos, crianças ou jovens,
Pobres ou ricos,
Um dia,
Como eu fugireis, na calada da noite,
Com lágrimas nos olhos,
Mas com determinação no coração,
Ah sim, um dia largareis tudo!
E nesse dia descobrireis
O quanto sois fortes,
Tenazes, determinados.
Para os que fogem,
Não existe indecisão.
Meus medos, minhas dores, meus desesperos...
Estou numa fuga louca,
Tropeçando, mas fugindo!
Não deixei, sequer, carta de despedida...
Minhas últimas letras foram as do recibo do hotel,
Não posso mais,
E nem perguntem para onde estou indo
Neste momento nenhum braço, nenhum olhar, nem um verso, pode me deter!
Estou largando tudo! E
Aos que ficam, preparem-se,
Um dia chegará a hora de vocês!
Sejam velhos, crianças ou jovens,
Pobres ou ricos,
Um dia,
Como eu fugireis, na calada da noite,
Com lágrimas nos olhos,
Mas com determinação no coração,
Ah sim, um dia largareis tudo!
E nesse dia descobrireis
O quanto sois fortes,
Tenazes, determinados.
Para os que fogem,
Não existe indecisão.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Euclides da cunha
Fragmentos da obra "Os Sertões"
A Terra
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao
passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e
estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com
as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em
lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto
desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos,
entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos
pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante
. . .
O Sertanejo
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o
raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.A sua
aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário.
Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima
das organizações atléticas.
[...]
Este
contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em
todos os pormenores da vida sertaneja -- caracterizado sempre pela
intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.
A luta
Decididamente era
indispensável que a campanha de canudos tivesse objetivo superior à
função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões.
Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e
digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se
aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda
tenaz, continua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e
incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários.
[...]
Canudos não se rendeu.
Fechemos este livro.
Canudos
não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao
esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do
termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5
mil soldados.
Assinar:
Postagens (Atom)